sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Alguns poemas do Rubens Rodrigues Torres Filho, de brinde, free, pra quem gosto.
Quem gosto (leia direito), são os que frequentam esse blog.
Gatos pingados, eu sei.
Mas como diz um cantor amigo meu, diante de pequenas pláteias e aplausos escassos: poucos, porém sinceros.


1) Mas o cisco

Corre o risco de escrever.
O risco da escrita corre
pela página deserta
se meu coração disserta
sobre o susto de viver.

Mas o cisco de entrever
colhe o disco da pupila
nos sulcos do acontecido
no giro do acontecer.

A trama - o texto - tecido
na ponta dos atros dedos
ao fio dos medos ingratos
corre os riscos correlatos:
ir & voltar. Ler. Reler.


2) Do vinho para a água

Das nove e meia da noite
às quatro e meia da chuva,
hora nenhuma, que é esta.

O vinho tinto que resta
no copo, que é corpo e culpa,
é nuvem, uva ou dilúvio?
Minha atenção já não presta.

Exato como uma luva
o coração nos aperta.
Tempo passa, passatempo,
roça a asa na conversa.

(O tempo esquece de quem
esquece a preguiça e a pressa).


3) Por exemplo

Ao que se chama oceano: ponto
pego, ambiguidade
ou simplesmente mar, nas horas densas;

ao que se diz das coisas invisíveis,
a saber, choro e vento, tempestade
dentro do abraço,

ao que se espera quando a noite é lenta
e se alimenta de pássaros suicidas

somo
esta notícia:
de teu nome gravado nas laranjas
e outros hábitos maiores.

Por exemplo sentar-se com gerânios
e a água que isso inaugura nos teus olhos.