quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Sei que vivi vidas e mais vidas sei que vivi por muita gente construindo gente fabricando gente inventando pessoas.
E enquanto o criador cuidava de tudo, cpf, imposto de renda, inss, planejamento, grana, risos, as criaturas ocupavam, equivocadamente, seus lugares pelo mundo. Perdi tempo demais nessa aventura bela mas digo que perdi e ganhei do mesmo tanto, no mesmo nível.
Agora, sentado nesse bar pé sujo sozinho, já não traço planos pra ninguém. Venceu o aluguel? Perdeu o cpf? A grana sifu? Problemas do mundo!
E eu, meu caro Carlos, já pensei que era dono do mundo ou, pelo menos, dono do mundo das pessoas que amei e amo.
Mas chega de delírios! Ninguém é dono de ninguém nem nada, nem eu quis ser dono de porra alguma. É que as pessoas que cruzaram meu caminho nesses bons e doidos 58 anos eram altamente passivas, sem rumo, possessivas, e, por não terem forças pra voar, dependentes, pesadas e cruéis.
Cansei, meu dom! Quero tanto a todos. Mas já não dá pra mentir que é tempo de gostar um pouquinho só de mim, esse menino sozinho, espantado, mas bonito, mas bacana. Quando eu era moleque sonhei ser feliz um dia. Todas as pessoas que conheci por aí me deram tudo de felicidade e sofrimento. Então, conheço bem a cor da mágoa e o sabor do riso.
Ali naquela mesa em frente à minha, um rosto me diz que me quer mais que almoço. Tô vivo, moço! Vivo o suficiente pra saber que por aí, pelo mundo, tem um mundão de carentes querendo um sorriso, um aceno, um abraço, um carinho.
Não é que eu tenha me cansado dos carentes.
É que minha cota de projetos sociais quer dar um tempo quer ver se enxerga minha própria fome e frio e falta de alimento e cobertor. O tempo da espera que falei. O meu tempo.
A minha extrema necessidade de me encontrar numa esquina qualquer e me dar o abraço que ninguém (dos tantos CPFs que criei) soube me dar.
Caralho, não quero quase nada. Nunca quis quase nada. E tantos me exigiram quase tudo que foi difícil me manter assim na lucidez tão simples de declarar: só quero um braço/abraço.
Sei que vivi vidas e mais vidas. Sei que vivi por muita gente. Mas agora é hora de viver a minha vida de cuidar da minha alma (minha gente).
Desculpa, não fechei para balanço nem fugi do mundo.
Me reservo o direito de gozar com quem quiser e de não gozar, se não quiser.
Meu coração tá de boa, e isso é muito bom. Enquanto espera o braço/abraço vai curtindo, vai vivendo, vai menino, vai sabendo que o melhor de tudo é dar corda no relógio sintonizar no programa do ratinho tomar um banho massa ligar o som e deixar a vida fabricar as vidas.

Escrevi esse textos há exatos 5 anos. Hoje, o encontrei por aí, achei uma merda, pra variar, mas achei tbem super atual.. Por isso postei. O que não tá atual é o programa do ratinho. Eu ia trocar para programa chumbo grosso, mas larguei de mão e deixei assim mesmo. Fica!