Dois textos encontrados por aí e "roubados" de maneira elegante.
O primeiro, do Leminski:
Uma poesia ártica,
claro, é isso que eu desejo.
Uma prática pálida,
três versos de gelo.
Uma frase-superfície
onde vida-frase alguma
não seja mais possível.
Frase, não, Nenhuma.
Uma lira nula,
reduzida ao puro mínimo,
um piscar do espírito,
a única coisa única. Mas falo.
E, ao falar, provoco
nuvens de equívocos
(ou enxame de monólogos?)
Sim, inverno, estamos vivos.
O segundo, trecho de um poema de John Cage, com tradução do Augusto de Campos:
Estou aqui e não há nada a dizer.
Se algum de vocês
quiser ir a algum lugar
pode sair a qualquer momento.
O que nós requeremos é silêncio.
Mas o que o silêncio requer
é que eu continue falando.