Tava trelendo o livro de poesias "Cer Teza", da Elisa Dias, lançado em 1986 e que me foi dado pelo Pio Vargas.
Ele, parece, ganhou esse livro da autora, que escreveu na dedicatória: "para o Pio, ímpio".
E o Pio, pra variar, escreveu um mini-poema (inédito, pois nunca citei ele antes), numa das páginas do livro.
O poeminha se chama "Regra":
"Após a menstruação dos versos
entro no período
poeticamente fértil".
Mas eu tava falando do livro que eu tava trelendo.
Lá tem um poema que me lembra um amigo e seus escritos raros e sensíveis e seu jeito bonito de gostar.
É comprido, mas vale a pena.
"O meu amor
anda pelas ruas
pedalando horários
comendo passeios
saboreando com a ponta da língua
um beijo pra mim
(eu acho ele lindo
nas coxas e olhos)
é comum esse amor meu
come bife a cavalo
chuta os gols na TV
trapaça os ciúmes que sente
roendo entre os dentes
um pé de moleque
(eu provoco os sonhos dele
com beijos e beijos
mas nem sempre ele acorda)
meu amor faz de conta que é tímido
e nem se encanta
com os presentes que eu dou
assopra meu ar de romance
arrepia minha veia poética
meu amor
nem é meu
ele diz:
- sem tempo
- sem posse
eu também acho assim
mas sou dele
aspiro por um desfile na avenida ao seu lado
seria como se não houvesse
samba
gente
carnaval
só nós dois
lindos e emplumados
morrendo de tesão um pelo outro
sabe, durante o dia
penso muito em você
imagino conversas
passeios
amores
conto as coisas
e você responde interessado
achando sempre que eu tenho razão
quando a gente briga
(que eu imagino)
é um bate boca pra cá
outro bate boca pra lá
e não há jeito de tudo dar certo,
penso na última novela que vi
e faço tudo acabar bem
será que você vai gostar
da forma descontraída do meu discurso?
ou será que pensará
mulher burra
não sabe nem escrever direito.
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