quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Três poemas de amor que acho belos.
O segundo do José Lino Grünewald (procurem conhecer, senhores poetas!).
O primeiro e o terceiro, do Glauco Mattoso (esse cara, todos precisam ler.)
O terceiro é tradução do Glauco.
O primeiro poema, foi musicado pelo Arnaldo Antunes e ficou massa.
Vamos lá:

SONETO 234 CONFESSIONAL (Glauco Mattosso)
Amar, amei. Não sei se fui amado,
pois declarei amor a quem odiara
e a quem amei jamais mostrei a cara,
de medo de me ver posto de lado.

Ainda odeio quem me tem odiado:
devolvo agora aquilo que declara.
Mas quem amei não volta, e a dor não sara.
Não sobra nem a crença no passado.

Palavra voa, escrito permanece,
garante o adágio vindo do latim.
Escrito é que nem ódio, só envelhece.

Se serve de consolo, seja assim:
Amor nunca se esquece, é que nem prece.
Tomara, pois, que alguém reze por mim...


Soneto Circular (José Lino Grünewald)
Difícil responder a tal pegunta
a pergunta que o tempo eternizou
pois se alguém com alguém sempre ficou
são só dois corpos vãos que a vida junta.

O que é sonhar, cismar ou divagar
definir o que é flama, fé ou flor
são flácidas palavras sem valor
os fáceis pensamentos cor do ar.

Restaria essa inútil melopéia
de quem burila o texto e logo ri
do verbo que ser visão e idéia.

Mas neste espelho me olho e vejo a ti
e ganho o conhecer renovador.
A resposta é Você. O que é o amor?


Escribir-Te Otra Vez … – Salvador Novo (tradução: Glauco Mattoso)
Escrevo-te outra vez, vou ao correio
Beijar o selo, à beira do envelope
Teus lábios! Meu nariz, choroso, entope…
Vão dias, e a resposta inda não veio.

Teus claros olhos são, quando te leio
Tão nítidos na mente, se a galope
Me venha aquela angústia que me dope
Nas horas de saudade, meu recreio!

Ao sonho roubo o encanto de rever-te.
Me encanto, na vigília, com sonhar-te,
Temendo, no meu íntimo, perder-te.

Teu rosto penso achar em toda a parte
Amor, meu bem, é isso: ausência e flirt
Que mata e ressuscita. É sorte, ou arte.