quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Logo que o Cazuza morreu, eu, Pio Vargas e o Padre César, organizamos uma solenidade na igreja Ateneu Dom Bosco. Na verdade, foi uma missa rezada pelo César. No meio da reza, os artistas entravam e cantavam canções do Cazuza, enquanto poetas disparavam seus poemas.
Me lembro que cantei "quando a gente conversa/ contando casos, besteiras"...
Na época, fiz o poema "Metralhadora cheia", uma homenagem ao Cazuza.
Não sei por que, não falei o poema na tal missa.
Achei o texto, outro dia, e corri para publicá-lo aqui.
Aviso: é muito ruim.
Mas tá valendo.... veja aí:


Cazuzo com você
me caso a hora que você quiser
não faço conta das coisas
do tempo
da mágoa da tua metralhadora cheia.

Cazuzo com você
habito seu casulo
me acho tão estranho sem você
sem remédio
sem o toque mágico
bonito, do teu beijo.

Cazuzo com você
convivo com a sua ideologia
entendo os seus dias de exageros
Cazuzo com você, belo menino
a vida é louca e a gente é mais ainda
queria ter você, pura inocência...
a gente ainda se vê: a vida é breve.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Encabulado

Me encabula
o vazio silencioso das cabeças
os faróis perdidos
e as pessoas nunca mais encontradas.

Me encabulam
essas luzes pela rua das cidades
as sombras noturnas e diurnas
sempre tão confinadas.

Me encabula
os desencontros dos olhares desejosos
receosos de se darem
se encontrarem por aí.

Me encabula
esse oco dessas bocas tão caladas
esses olhos tão cansados
esse jeito de dormir.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Um poema que fiz há uns 25 anos, em homenagem à minha cidade, Mossâmedes, e ao meu pai, Zu Brandão, que foi prefeito e amava, como poucos, aquela cidade.
Mossâmedes, no começo, em 1772 (eu acho), foi chamada de Aldeia de São José de Mossâmedes.
Aldeia, porque o povoado foi criado para abrigar índios catequisados.
No poema, faço uma pergunta que deve ser feita à várias pequenas cidades: o que é melhor? Viver e morrer aldeia, cidade pequena? Ou crescer, ser maior, correr atrás do "progresso"?
E fecho com uma frase de dupla interpretação:
1) compensa lutar até Aldeia.
2) compensa lutar até... Aldeia.



Aldeia de São José, pra sempre
alheia ao que você é, Aldeia
se as cores que a vida quer, demora
periga perder o mel, abelha.


Serra Dourada
adorada terra
custa falar de amor?
De seu nascente
poente e lua
custa cantar, cantor?
Moça, me diz
Mossâmedes
terra, o que é melhor:
viver aldeia
morrer aldeia
ou crescer, ser maior?


Estrela da minha fé, me guia
Estrada onde ponho o pé, clareia
se o canto que a vida quer, demora,
compensa lutar até
Aldeia.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Cenário (em parceria com Pio Vargas)

Quase nada me separo
e se paro
é por andar
Quase sempre me evaporo
pela fresta
do olhar.


Por aí
pelos atalhos
meu comboio e agonia
Meu caminho é sempre vário
Minha fuga não varia.


Meus domingos, meus projetos
esse rosto, essa barba
e o cenário por montar
Na boca do abandono
nem legumes, nem palavras
meu papel é navegar.
Solidão S/A

Janelas de bus
garotos da rabeira
a vida vale um nada
avenida anhanguera.
Quem chama a polícia?
Quem viu o ladrão?
Quem ama, quem sonha?
Multisolidão.


Janelas demais
meninos de alma verde
a vida vale a vida
água de cachoeira.
Quem planta a delícia?
Quem colhe o sertão?
Quem ama, quem ama,
vasto coração?